quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Cultura Popular e Cinema Novo no Cineclube Belém Insular


 

MACUNAÍMA NO CINECLUBE BELÉM INSULAR – Escola Bosque, Auditório, dia 24 de Agosto às 18:00h

Na edição mais recente do filme macunaíma, em DVD, antes do início do filme, há um curto depoimento do diretor Joaquim Pedro de Andrade sobre o modo como o escritor Mário de Andrade impactou-se com a leitura de uma coletânea de lendas indígenas brasileiras, que o teria extasiado e comovido liricamente. Aí o escritor encontrou o ensejo para escrever a narrativa, que se tornaria uma das principais obras da literatura nacional, referência do modernismo, e que viria a tornar-se, mais tarde, também, uma referência do cinema brasileiro.

Cinema e Literatura: o cinema nacional é em certa medida tributário da criatividade literária nacional. Muitos dos cineastas mais destacados, que construíram por essas paragens suas filmografias, não deixaram de lançar mão ao nosso patrimônio literário, tão fecundo e de história consolidada. Os principais autores nacionais tiveram seus personagens corporificados em atores conhecidos e seus enredos adaptados para os códigos da imagem e do som, transando a expressão livresca, da palavra escrita, seja teatral, seja narrativa, seja, inclusive, poética, com a modernidade técnica e as inovações tecnológicas da linguagem dos olhos e ouvidos - a expressão cinematográfica. Tanto é assim que alguns autores só vieram adquirir popularidade, ou multiplicá-la, quando suas obras ganharam as telas grandes dos cinemas nacionais, caso de autores como Nelson Rodrigues, Jorge Amado e Graciliano Ramos, cujas obras recorporificaram-se de maneira formidável em filmes que, sendo tributários das obras originais, adquiriram independência através da recriação fílmica. Dois exemplos, respectivamente, para cada um desses autores: a falecida (de Leon Hirszman - 1965) e toda nudez será castigada (de Arnaldo Jabor - 1973); tenda dos milagres (de Nelson Pereira dos Santos - 1977) e dona flor e seus dois maridos (de Bruno Barreto - 1976); vidas secas (1964) e memórias do cárcere (1984) ambos de Nelson Pereira dos Santos.

Linguagens que dialogam: a interseção entre o cinema e literatura pode ser constatada quando se percebe que ambas as linguagens são ou podem ser narrativas, isto é, cinema e literatura possuem a potência de contar histórias, de narrar fatos. O cinema o faz mobilizando imagens, no espaço e no tempo de uma ação, por isso, podemos dizer que o cinema transa também com as artes visuais e com o teatro, tendo sua base e seu fundamento na síntese e aglutinação de linguagens diferentes. O cinema não só realiza esse diálogo, como também incorpora as diversas obras pré-existentes, readaptando-as a sua linguagem e exprimindo-as conforme os propósitos do projeto. É o caso de macunaíma, recriação de uma obra literária narrativa, sob as diretrizes do projeto do cinema novo brasileiro. Ocorre também das formas das outras artes serem incorporadas pelo cinema, Isto é, do cinema mobilizar recursos próprios de outras artes, permitindo que se fale, por exemplo, na poesia do cinema, ou na ação cinematográfica. Exemplo é outro filme de Joaquim Pedro, baseado em poema de Carlos Drummond de Andrade: o padre e a moça de 1964.

Macunaíma: em 1969, o cineasta mineiro Joaquim Pedro de Andrade filmou o livro homônimo de Mário de Andrade, macunaíma, corporificando o herói de nossa gente nas figuras inesquecíveis de Grande Otelo e Paulo José. O filme obteve grande repercussão, recebendo prêmios em festivais e considerável bilheteria. O diretor de cinema mineiro, que compunha com outros notáveis cineastas o movimento do cinema novo, recriou a obra do escritor modernista, enfatizando seu caráter irreverente e bem humorado e acrescentando-lhe motivos caros ao movimento de cinema - a reflexão sobre a linguagem cinematográfica e a preocupação com a situação social e política do país, que vivia a fase mais radical da ditadura militar (no filme, a personagem Ci é guerrilheira e há um momento em que Macunaíma, Ci, Jiguê e Maanape contracenam em uma fábrica onde elevadores se movimentam para cima e para baixo, fazendo pensar na luta armada e no desenvolvimentismo, temas da época). O filme trás referências culturais e estéticas do período em que foi realizado, sobretudo do movimento tropicalista, então em voga, e é representativo da fase em que os diretores cinemanovistas buscaram um diálogo mais efetivo com o público através da incorporação de signos nacionais populares e da expressão menos rebuscada e mais didática de temas e conflitos.


 

Macunaíma - Créditos:
Direção,
Produção e Roteiro: Joaquim Pedro de Andrade, baseado em livro de Mário de Andrade

Tempo de Duração: 108 minutos / Ano de Lançamento (Brasil): 1969


Fotografia: Guido Cosulich e Affonso Beato / Edição: Eduardo Escorel

Música: Jards Macalé, Orestes Barbosa, Silvio Caldas e Heitor Villa-Lobos
Figurino e Desenho de Produção: Anísio Medeiros
Elenco: Grande Otelo (Macunaíma); Jardel Filho (Pietro Pietra); Maria do Rosário;
Paulo José (Macunaíma); Rodolfo Arena (Maanape); Hugo Carvana;
Dina Sfat (Ci); Joana Fomm (Sofará); Wilza Carla;
Milton Gonçalves (Jiguê); Myriam Muniz; Zezé Macedo; Maria Lúcia Dahl


O CINECLUBE BELÉM INSULAR é uma realização do MMIB (Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém), Escola Bosque, Cine Mais Cultura, MINC, SECULT/Pa.

Contatos: cineinsular@gmail.com. Blog: insularcineclube.blogspot.com


Escola Bosque:
Av. Nsa. Sra. Da Conceição, s/nº, Bairro: São João do Outeiro Ilha de Caratateua – Distrito do Outeiro – Belém

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